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13/05/2021 às 07:08
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Quirera Gourmet – 13/05/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho
Imobiliária Fabiano Santos 137876

Daquele Tempo Muito, Ou Bem, Antigamente…

Lá atrás, nos anos de chumbo, os xanxereenses mais antigos vestiam um ar de valentia, misturado com incertas pitadas de ironia, ao lembrar e ao se referirem ao apelido de “Capital do Gatilho” – que a cidade herdou, por motivos pertinentes. Não tenho certeza, mas aqui tombaram nada menos que três valorosos delegados de Polícia, todos no arriscado exercício de impor a necessária lei e a apreciada ordem, nos anos de 1950 até a década de 70. Isso era um vasto sertão… Pouco antes de 1954, ao levar a Florianópolis documentos e o pedido para criar o município, a Comissão emancipacionista – que aparece em conhecida fotografia, sob a Figueira da Praça XV de novembro –  contava meu pai, integrante dela, levou cerca de uma semana para chegar lá….

Não existiam estradas – não que fizessem jus a esse nome, eram picadas. O Oeste era um sertão coberto de mata fechada, cheia de araucárias e madeiras valiosas. No meio da mata, ranchos de caboclos fugidos da Guerra do Contestado e / ou deixados por caravanas que iam do Rio Grande do Sul a São Paulo, levar gado. E trazer pregos, enxadas, serrotes, pás e picaretas ferramentas e utensílios em geral. De arados a panelas, arames, mais botas e sapatos, roupas e o que mais fosse útil por aqui. E possível de ser transportado. Uma vez ouvi o relato da chegada de um caminhão, na casa de comércio dos Irmãos Giordani (onde hoje é o Supermercado Brasão), vindo de São Paulo, carregado – a carga inteira – de pregos!

O “progresso da cidade” – sem ironia – provavelmente zerou o estoque de pregos, porque madeira com certeza não faltava! Também ouvi meu pai contar de caçada feita por ele e seus dois irmãos, ali na região onde está a subestação da Eletrosul, onde morava um agricultor da família Giroletta. Em poucas horas voltaram da caçada com uma penca de perdigões e perdizes – e isso era comum. A caça era liberada, existia fartura, e se duvidava que um dia terminasse.

Refeições com polenta, perdizes e perdigões, na panela de ferro no fogão a lenha não eram, entretanto, um banquete. Eram uma refeição razoavelmente frequente nas casas de famílias pioneiras, nos meses de inverno. Banquete era um churrasco: O gado que existia, mas era para produzir leite! Não existia televisão, e as famílias eram numerosas, sempre com um bando de “bambinos”.

Xanxerê não tinha apenas a fama de ser perigosa e bandoleira. Ela era, mesmo! Com sete ou oito anos, lá 1961/62, ninguém lá em casa colocava o pé na rua sem avisar onde (pensava que) iria. E se saísse de casa sem avisar, na volta o chinelo “cantava”! Porque a rua era perigosa, a cidade era perigosa, e a região, também. Os bandidos da época eram de verdade, não se conheciam vilões, nem super-heróis. Tinha o Raul Teixeira – temido e respeitado, por ser um pistoleiro, matador de aluguel, que andava com capangas, e era totalmente real!

Seu Adílio Fortes, o primeiro prefeito eleito de Xanxerê me contou, nos anos 90 lá em Chapecó, que um dia voltando para casa depois do expediente na prefeitura, foi parado na rua por um cavaleiro, que lhe disse ser Raul Teixeira! ”Ele me cumprimentou, disse que sabia quem eu era, se apresentou, e disse que uma pessoa tentara lhe contratar, para me matar! Mas ele não aceitou porque disse gostar de mim e que me considerava uma boa pessoa”, me contou o Ex-prefeito.

Lembro do relato de vários tiroteios, com vítimas fatais, ou gente atingida por tiro, que ouvi de gente grande, lá em casa, quando a “gente grande” não nos mandava sair de perto, porque o papo não era conversa “para guri pequeno”, ou “para gente do teu tamanho”! Ao mesmo tempo essa época atraía para o Oeste também gente da grana, querendo ganhar fortunas com a imensidão de florestas de madeiras nobres e de grande valor.

A maior parte das árvores extraídas das matas do Oeste foram levadas para a Argentina, via Rio Uruguai, em balsas. Primeiro em forma ainda de toras, mas logo depois também já serradas e empacotadas, amarradas, também formando balsas. Considerando-se os territórios dos hoje municípios de Faxinal dos Guedes, Abelardo Luz, São Domingos e outros, vizinhos, Xanxerê chegou a ter, no início da década de 1960 nada menos que 28 serrarias em pleno vapor, contava meu pai. E Xanxerê estava no olho desse furacão.

A terra em si não tinha grande valor, o que valia era a madeira que existia nela, e a terra era do “governo”, chamadas de devolutas. Ou seja: Eram de quem tomasse posse delas, ou de quem as comprasse das grandes empresas colonizadoras. Estas eram resultantes de compadrios, ou parentesco com altas patentes do Exército brasileiro. Este, como sempre, destacado para garantir a manutenção de divisas e de terras fronteiriças, contra a ameaça “de invasão dos castelhanos” – mais ou menos os “comunistas” da época!

E nesse comprar terras extensas, no meio do mato, volta e meia os colonizadores europeus, munidos do grande desejo de fazer fortunas com a madeira, deparavam-se, lá nos fundões, nos cafundós do mato, com casebres, taperas, habitadas por “caboclos” que se mantinham basicamente da caça e da pesca, mais o que conseguiam colher no mato, ou trocar, na Vila de Palmas, onde o Exército já possuía base e contingente, para “garantir a fronteira”. Os caboclos eram convidados a sair da terra, e alguns até vendiam a posse. Mas quem se recusasse a sair “por bem”, poderia ser convencido a sair “à bala”! Vem daí a explicação para a presença de muitos pistoleiros, na região.

Poucos sabem, hoje, talvez por estar em outro estado, mas o município paranaense de Palmas foi, na verdade, a primeira referência de civilização do grande Oeste catarinense e Sudoeste do Paraná.  Em 1720, um Bandeirante chamado Zacarias Dias Cortês, teria sido o fundador da Freguesia “dos Campos de Palmas”. O município, porém, só foi criado em 1879, após ser desmembrado de Guarapuava. Historiadores situam Palmas como o primeiro marco civilizatório da região Oeste catarinense e sudoeste o Paraná. Além de sediar o Exército, o município também sediava outra “autoridade” da região, à época: A Diocese Católica e o “Bispo de Palmas” – figura popularizada no folclore oestino como a suprema autoridade regional.

Apesar de heroicos esforços de alguns poucos historiadores, a História completa e profunda da colonização de nossa região ainda está para ser escrita, eu acredito. Mas pelo pouco que se conhece sabemos com certeza que foi uma história de valentes e de muita valentia. Não apenas para sobreviver num ambiente hostil, habitado apenas por indígenas nativos, nem sempre amistosos, mas também pela precariedade de recursos, de autoridade e de leis – como é comum acontecer em histórias de desbravamentos, ou de conquistas.

No futuro, quem sabe, pesquisas possam resgatar esses anos de pioneirismo e desbravamento. Sabe-se, por exemplo, que o Marechal Cândido Rondon, com sua tropa, passou por Xanxerê no início dos anos 1900, construindo a “estrada da linha” (do Telégrafo), vindo de Abelardo Luz, que até hoje é o traçado da rodovia entre as duas cidades. Rondon, por onde andou, sempre escreveu em seus diários de viagem a realidade que encontrava. E existe, no Rio de janeiro, um Museu Rondon, dedicado às suas andanças pelo país inteiro. Que eu saiba nunca se pesquisou nele algum registro sobre sua passagem por Xanxerê e região – que provavelmente deve existir. Então, fica a dica!

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