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05/06/2020 às 08:01
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Quirera Gourmet 05/06/2020

Quirera Gourmet
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Meu pai e essa vontade que Nunca passa, de escrever…

Sempre me identifiquei com pessoas que gostam de escrever, e acho que escrever é a melhor herança que meu pai deixou para mim. Guardo na memória ele sentado em sua escrivaninha do cartório depois do jantar, à luz de velas, escrevendo em enormes livros do Registro de Imóveis com sua caneta tinteiro. Sua caligrafia não era manuscrita, parecia mais um desenho de curvas claras e suaves feito a máquina, sem erros de ortografia, nem de acentuação ou de concordância. Nos primeiros anos de Xanxerê município – ele contava – era sempre escolhido para redigir atas de reuniões de várias naturezas. Outra imagem inesquecível é ele na máquina de datilografia. Chimarrão de um lado, cigarro no cinzeiro do outro e as duas mãos no teclado. Falava e escrevia sem olhar o teclado (nunca consegui fazer isso), e tomava chimarrão e dava baforadas no inseparável palheiro – depois de abandonar o “Belmonte”. São as lembranças que mais gravei, escrevendo, na máquina ou à mão, nos livros…

Outra imagem eterna é dos finais de tarde na hora do chimarrão, antes da televisão. Com seu palheiro fumegando no cinzeiro, abria o jornal, lia, e depois dobrava a página onde estavam as palavras cruzadas, sacava sua caneta do bolso da camisa e só parava quando completava todos os espaços. As palavras cruzadas eram definidas por números e separadas em “horizontais e “verticais”, e na grade ficavam apenas os números. Foi a primeira vez que ouvi falar, e aprendi ali o significado de horizontal e vertical. E também a desenhar as letras e começar a entender como se formavam as tais palavras, era uma aula quase diária. Embora nessa época eu ainda não fazia perguntas, só olhava ele preencher as enigmáticas palavras cruzadas. Mas tem mais recordação dele que me explica onde fui buscar vocação para o Jornalismo. Seu Romeu gostava muito de plantar árvores, frutíferas ou nativas, que muitas vezes replantava mudas, ou plantava sementes que lhe traziam. No quintal de casa o enorme pomar exibia seu passatempo predileto: Plantar árvores. E fazia também muitos enxertos.

Numa tarde de sol, acho que de inverno, depois de fazer a tarefa de todos os sábados junto com meus dois irmãos mais próximos – limpar e lustrar os sapatos de todos da família – fui com ele, “ajudar” a fazer enxertos, arte elaborada e executada com maestria, sob a batuta de seu afiadíssimo canivete, cera de abelha e barbante. Era a primeira vez que o acompanhava, e com uns cinco ou seis anos tinha a curiosidade normal (ou mais que isso) daqueles anos, de querer saber como as coisas aconteciam, o porquê, o quando e onde… Enquanto olhava ele ali, concentrado no preparo do “cavalo” – o caule da árvore onde encaixaria o enxerto, eu fazia umas três ou quatro perguntas por minuto. Queria saber tudinho! O que era a cera, para que aquilo, porque daquele corte no meio do caule, e daquele pedaço de galho com ponta em forma de cunha. “E para que esse barbante, pai? Mas tem que amarrar porquê? E essa planta vai dar pêssegos igual aos outros pés? Vai dar pêssego já no ano que vem? E a geada não vai matar? Precisa cobrir no inverno? ”…

Meu pai era de uma paciência e de uma calma que mais tarde ouvi dizer ser marca registrada de lordes ou de cavalheiros ingleses, homens de poucas e sábias palavras, diziam. Depois de responder a umas quinze perguntas minhas, naquela tarde de sábado, quase fiz ele perder essa fleumática serenidade inglesa. De repente, parou o que fazia e ali mesmo, abaixado, ao lado do enxerto, olhou bem nos meus olhos, suspirou bem fundo – acho que até disse um “ufffaaaa”- e falou, bem sério: “Mas você gosta de fazer perguntas, hein!!”. E mais não disse, nem precisava… continuei ali com ele, só olhando, parei de fazer perguntas. E acredito ter aprendido ali a não chatear, nem atrapalhar quem está trabalhando. Mas nunca perdi o gosto pelas perguntas… Nunca li, nem ouvi falar que meu pai tenha escrito uma crônica, ou alguns versos, ou uma estória qualquer. E me arrependo de nunca ter perguntado sobre isso a ele. Sei que gostava de redigir atas e sei também gostava muito de ler Mário Quintana. Lia jornal diariamente e assinou durante muitos anos a Revista “O Cruzeiro”, a primeira que folheei e li. Gostava da última página, onde Rachel de Queirós publicava artigos e crônicas.

Meu pai também lia livros, romances em períodos de férias, mas sua leitura mais frequente era mesmo os jornais. Com sete filhos para manter e educar não sobrava tempo para leituras, além do jornal. De certa forma dei continuidade a esse hábito de escrever e de ensinar os primeiros passos da leitura: Com minhas três filhas pequenas eram frequentes vê-las chegar com uma revista infantil na mão e me pedir: “Pai, conta história para mim? ”. Contava e emendava as histórias com invenções que tirava da cabeça, sem elas perceberem. Adultas, elas me retribuíram esses cuidados com pedido que não vou esquecer jamais: ” Pai, conta histórias de quando a gente era pequena”? Conto, sempre que lembro e algumas elas já sabem de cor, mas volta e meia ainda pedem para repetir. Contar estórias para mim é como escrever, colocar vida em algumas linhas impressas em um pedaço de papel ou, hoje, na tela de um computador. Cada maluco com sua mania? Pode ser isso mesmo. O gostar de escrever faz com que eu admire a capacidade que todos temos de imaginar e de criar. Ou simplesmente “contar causos” – outra prosa apreciada por Seu Romeu. Ou apenas para tentar criar alguma coisa nova. A gente precisa tentar e vou continuar tentando criar e inventar mais histórias, reais, imaginárias ou as duas misturadas, enquanto puder!

Um bom fim de semana a todos (as)!

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